Tartarugas até lá embaixo


RESENHA

   Sabe quando você lê um livro que mexe profundamente com o seu coração? Um livro que consegue captar todos os segredos que ficam ocultos bem lá no canto do seu subconsciente. Um livro que retrata a pessoa que você é, mas que nem todos sabem. Um livro que consegue decifrar os enigmas da sua vida e lhe mostrar que existem pessoas espalhadas pelo mundo que são iguais a você.
   Tartarugas até lá embaixo é exatamente esse tipo de livro.
“Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu.” (p. 16)

   É difícil resenhar ou falar sobre uma história tão impactante assim, nunca me sinto digna ou apta o suficiente. Sempre penso que deixei algo passar, que não me expressei direito, ou que não valorizei o livro da forma que ele merecia ou da forma que o meu coração se afeiçoou a ele.
“E a questão é que, quando a gente perde alguém, a gente se dá conta de que no fim vai perder todo mundo.” (p. 81)
   Ao ser noticiado o desaparecimento do bilionário Russell Pickett, duas jovens garotas resolvem bancar as detetives para solucionarem esse mistério e receberem a recompensa de cem mil dólares. 
“Um dos desafios da dor, seja física ou psíquica, é que só podemos nos aproximar dela através de metáforas. Não temos como representá-la como fazemos com uma mesa ou um corpo. De certo modo, a dor é o oposto da linguagem.” (p. 88)

   Aza não estava nem um pouco propensa a realizar esse tipo de investigação, principalmente por ter conhecido David o filho do bilionário, há anos atrás e ainda nutrir algum pequeno sentimento por ele. Porem tudo o que sua amiga Daisy mais quer é colocar as mãos nessa recompensa. E por uma amizade de verdade a gente move céus e terras né? 
“Eu era o peixe, infectado por um parasita, nadando próximo à superfície, querendo ser devorada.” (p.126)
   A vida de Aza não era fácil, ela é uma garota de dezesseis anos que possui transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e vive presa em espirais de pensamentos que se estreitam fazendo com que ela se sinta aprisionada em sua própria mente. 
“O mais apavorante não é girar sem parar numa espiral crescente, é girar sem parar na espiral que se afunila. É ser sugado para um redemoinho que vai se fechando mais e mais e esmagando seu mundo até você estar apenas girando sem sair do lugar, preso numa cela que é exatamente do seu tamanho e nem um milímetro a mais, até você finalmente se dar conta de que na verdade não está preso na cela. Você é a cela.” (p. 144)

   Quando eu descobri sobre o que se tratava esse livro, confesso que fiquei ansiosa para lê-lo, mas assim que ele chegou, fiquei receosa em abri-lo. Sim, você deve estar se perguntando: Receosa porque Kalyne?
“Toda perda é única. Não dá para saber como é a dor de outra pessoa, da mesma forma que tocar o corpo de alguém não é o mesmo que viver naquele corpo.” (p.164)
   Assim como a Aza, eu sofro de TOC, não é algo agradável, não é algo que eu saio gritando pelos quatro cantos do mundo, não porque tenho vergonha, mas porque não vejo necessidade. Porém não é algo que me impede de viver como impedia a Aza. Mas é algo meu, é algo que faz parte de quem eu sou. Mas então por qual motivo estou contando isso a vocês?

“— Sabe, Sekou Sundiata diz em um poema que a parte mais importante do corpo “não é o coração, ou os pulmões, nem o cérebro. A maior e mais importante parte do corpo é a parte que dói” ”. (p.210)
   Pesquisando afundo sobre o que motivou o meu querido John Green a escrever esse livro, descobri que ele também vive com TOC, essa é uma história pessoal sobre uma doença que afetou a vida dele desde pequeno.
“— São tartarugas até lá embaixo — repeti 
— São só umas tartarugas ridículas até lá embaixo, Holmes. Você está tentando encontrar a primeira tartaruga, mas não é assim que funciona. 
— Porque são tartarugas até lá embaixo — repito uma segunda vez, sentindo uma espécie de revelação espiritual.” (p.229)

   Transtornos mentais ou doenças mentais não é um assunto que vejo sendo retratado com freqüência em livros. E a forma como o autor abordou isso foi definitivamente única e especial. Se John já havia ganhado o meu respeito com Quem é você Alasca?, depois de Tartarugas até lá embaixo ele ganhou foi o meu eterno amor e carinho. 
“O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram. E aí a gente morre.” (p.258)
   John escreveu uma história maravilhosa e emocionante sobre a fragilidade da vida, a capacidade de lidar com os problemas, a grandiosidade de uma amizade sincera e verdadeira e o poder do amor. Recomendo esse livro com todo o meu coração.


PS: Amei todas as citações sobre Star Wars.


Detalhes

Páginas: 256
Autor: John Green
Editora: Intrínseca

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