"Nolite te bastardes carborundorum"
SINOPSE
A história de 'O conto da aia' passa-se num futuro muito
próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais,
revistas, livros nem filmes - tudo fora queimado. As universidades foram
extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os
cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no muro, em
praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de
todos. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais,
anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas
já foi Estados Unidos da América. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas
são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no
Estado - há as esposas, as marthas, as salvadoras etc. À pobre Offred coube a
categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente
para procriar. Offred tem 33 anos. Antes, quando seu país ainda se chamava
Estados Unidos, ela era casada e tinha uma filha. Mas o novo regime declarou
adúlteros todos os segundos casamentos, assim como as uniões realizadas fora da
religião oficial do Estado. Era o caso de Offred. Por isso, sua filha lhe foi
tomada e doada para adoção, e ela foi tornada aia, sem nunca mais ter notícias
de sua família. É uma realidade terrível, mas o ser humano é capaz de se
adaptar a tudo. Com esta história, Margaret Atwood leva o leitor a refletir
sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o
conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.
MINHAS CONSIDERAÇÕES
Por Deus, como começar a falar desse hino em forma de livro?
Não é fácil. Confesso que essa foi uma leitura que me impactou profundamente,
me fez pensar e refletir dias afins após ter chegado as ultimas paginas. Uma
das coisas que me intrigou, foi o fato do livro ter sido escrito em 1985, e
possuir uma leveza contemporânea na narrativa.
Tive uma experiência de leitura inacreditável. Mesmo o livro
possuindo uma história dolorosa, cruel e anormal, eu me encantei pela narrativa
da Margaret Atwood. Foi o meu primeiro contato com a autora e ela me ganhou
completamente. Eu sempre quis ler O Conto da Aia, mas ficava receosa se o livro
era realmente bom, e o que significava ser uma Aia em 1985 após o estado ter se
tornado totalitário e teocrático.
O termo “bom” para definir esse livro é algo pequeno, em
minha opinião O Conto da Aia é extraordinário. A história trás uma versão
macabra de como um golpe de uma seita católica colocou fim a democracia
existente nos Estados Unidos e transformou essa grande potencia na republica de
Gilead. E as conseqüências desse golpe foram cruéis. Eu consegui sentir na pele
o horror que as mulheres que se tornaram Aias eram submetidas.
Perder o direito de ser quem você é, de ler qualquer tipo de
livro, assistir até as coisas mais banais, não poder estudar ou exercer sua
profissão, mas ser obrigada e se submeter a um regime cruel onde as mulheres
servem apenas para reproduzirem como vacas parideiras, não é algo fácil de ler.
Segurei o choro de raiva em diversos momentos ao ver Offred sendo obrigada a
deixar o seu direito como mulher, como ser humano ser jogado no lixo e aceitar
uma realidade tão cruel quanto a descrita na história.
Isso me fez questionar o que aconteceria se realmente sofrêssemos
um golpe de Estado assim. Oro para que isso não aconteça, mas os caminhos em
que o Brasil está indo, só um milagre para impedir tal fato. Me disseram que após
a leitura desse livro eu fiquei paranoica com relação a isso, mas discordo
veemente, sempre me preocupei com a possível perca da nossa democracia, e O
Conto da Aia só abriu os meus olhos ainda mais para esse fato. Sempre serei
grata a Margaret Atwood por ter escrito essa história.
E você que ainda não conhece a história, lhe faço um sincero
convite para que o faça. Esse livro deveria ser leitura obrigatória.
“Somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes.”
“Quando pensamos no passado são as coisas bonitas que escolhemos sempre. Queremos acreditar que tudo era assim.”
“Conto, em vez de escrever, porque não tenho nada com que escrever e, de todo modo, escrever é proibido. Mas se for uma história, mesmo em minha cabeça, devo estar contando-a a alguém. Você não conta uma história apenas para si mesma. Sempre existe alguma outra pessoa. Mesmo quando não há ninguém. Uma história é como uma carta.”
“Os jovens são com freqüência os mais perigosos, os mais fanáticos, os mais nervosos com suas armas. Ainda não aprenderam com o tempo sobre as coisas da vida.”
“Foi então que suspenderam a Constituição. Disseram que seria temporário. Não houve sequer nenhum tumulto nas ruas. As pessoas ficavam em casa à noite, assistindo à televisão, em busca de alguma direção. Não havia nem um inimigo que se pudesse identificar.Cuidado, disse Moira para mim, ao telefone. Está vindo por aí.O que está vindo por aí?, perguntei.Espere só, disse ela. Eles têm estado se preparando para isso. Seremos você e eu contra a parede, querida. Ela estava citando uma expressão típica de minha mãe, mas não tinha a intenção de que fosse engraçado.”
Detalhes
Páginas:
Publicação original: 1985
Ano: 2017
Editora: Rocco
Skoob
Obrigada pela resenha. Com certeza esse livro está na minha lista, estou tentando criar coragem pra ler ele, na verdade acho que estou com medo do sofrimento ��
ResponderExcluirObrigada pelo carinho. Apesar de todo o sofrimento que esse livro retrata, a leitura é maravilhosa e me ensinou tantas coisas. Recomendo de coração. <3
Excluir