Escola dos Mortos



RESENHA

   Imaginem a seguinte situação: um homem desconhecido, estrangeiro e bem vestido, aparece na porta de sua casa e lhe diz que você é a herdeira de uma grande fortuna, mas que existe uma condição intangível para o recebimento desse dinheiro, que é estudar um ano em um internato. Abandonar o calor das terras quentes e conhecidas do Rio de Janeiro e se mudar para os arredores frios e misteriosos da Inglaterra. E assim começa a história de nossa personagem Lara Valente. 

   A Escola dos Sotrom não era nem um pouco aconchegante ou receptiva. Era um lugar macabro, grande e assustador. Lara imediatamente se arrepende por ter aceitado estudar em um local assim, onde parece haver almas penadas pelos cantos e não alunos. Mas a vontade de dar uma vida melhor para a mãe e a irmã, a fazem ser forte e permanecer naquele lugar sem vida, sem brilho, sem cor. 

“Paixões platônicas não eram do meu feitio, mas aqueles olhos pegavam fogo. Eram escuros, sinistros e arrogantes. Decifra-me ou devoro-te, diziam. Ainda que impressos num papel sem graça, eles simplesmente... Incendiavam.” 

   Os alunos parecem se esconder de algo, não gostam de chamar as atenções para si, como se isso fosse ser perigoso para eles. Não estava sendo fácil para Lara conviver em um lugar tão estranho e assustador assim, principalmente ao ouvir vozes em uma gravação que foi feita em uma sala vazia, e se deparar com o nome de alunas mortas nas portas de seus quartos, como se ainda morassem ali. 

   Algo muito macabro acontecia na Escola dos Sotrom, a vida dos alunos não era segura naquele local e Lara passa a temer pela sua própria vida, até que o inevitável acontece. Ela é assassinada e passa meses em um caixão até despertar em um universo paralelo: o dos mortos. 

“Esse lugar tinha um cemitério, um coveiro, nomes de meninas mortas que aparecem em sua porta e garotos fantasmas perambulando pelos corredores. Deus. Onde eu fui me meter?” 

   Um mundo oculto que existe em conjunto com a Escola dos Sotrom totalmente em segredo dos vivos, mesmo estando tão perto deles. Porém nessa outra Escola a morte escolhe e mata os melhores alunos, os mais inteligentes, lindos, ricos, aqueles que se destacaram na Sotrom por serem especiais. Esses melhores alunos perdem a vida e se tornam os alunos da Escola dos Mortos. E foi exatamente isso que aconteceu com a nossa garota Lara Valente ao ser assassinada. 

   Duas escolas que funcionam juntas em segredo, dois mundos diferentes e que coexistem entre si. Os dias são dos alunos vivos e as noites são dos alunos mortos. Em que universo isso seria possível? Como acreditar que essa seria a tão sonhada vida após a morte? Ser uma peça eterna em um tabuleiro de jogos da própria morte? 

“Se ela achou que eu iria aceitar ser assassinada pacificamente tinha se enganado. Podem me roubar, me pisar e me jogar no chão. Mas quando eu levantar, corre.” 

   Lara decide encarar o destino que lhe foi imposto e viver intensamente no mundo dos mortos, afinal agora ela era um deles. Mas mesmo depois da morte seria possível encontrar um grande amor? Amigos que se tornassem família? Ela jamais esperaria viver sentimentos tão intensos e conflitantes, jamais esperaria se apaixonar pelo aluno mais sombrio e perigoso da Escola dos Mortos. 

   Antes mesmo dela se apaixonar por ele, Luka Ivanovick já havia decidido que Lara seria sua. Ele a escolheu, no meio de várias beldades que sempre fizeram de tudo para chamar a sua atenção, depois de anos ele enfim tem a sua escolhida. Lara não entende como isso pode ser possível, mas existe razão nas coisas feitas pelo coração? A morte pode ser apenas o começo para tudo. 

“Eu não sabia como lidar com meu novo descontrole emocional. Sempre fui brisa leve, e agora me tornei tempestade. Eu ia da alegria à dor em questão de segundos, e tudo o que ele fizesse, por mais insignificante que fosse, tinha o poder de me afetar.” 

   Caramba caramba caramba caramba! Que história sensacional, incrível, maravilhosa e única. Ouso dizer que há muito tempo não lia algo tão cativante assim. Uma escrita fascinante e capaz de entrar na mente, no coração e até nos sonhos dos leitores. 

   Eu havia começado o livro com a expectativa de leitura lá nas alturas, afinal só vejo comentários positivos sobre a história e isso me matava de curiosidade em conhecer o mundo dos mortos que a Karine Vidal criou, mas preciso confessar algo a vocês: ESSE LIVRO SUPEROU TODAS AS MINHAS EXPECTATIVAS. 

“Eu nunca fui fraca. Podia aguentar as piores dores, as piores ofensas, as piores tragédias. Sempre me mantive firme e fria diante das perdas, das dificuldades da vida.” 

   O universo do mundo dos mortos que é apresentado aqui é algo que nos faz pensar e refletir sobre o valor da própria vida. Quando estamos vivos não damos importância a determinados momentos, como o brilho do sol, a água da chuva, as sensações de frio e calor, ou o simples ato de poder respirar, derramar lágrimas e sentir o coração batendo no peito. 

   Lara precisou morrer para se apaixonar e conhecer o amor. Poderia então haver alguma beleza na morte? Poderia haver alívio em jamais voltar a respirar e sentir os raios do sol esquentando a pele em um dia quente de verão? Na Escola da Noite sim. Mesmo a morte roubando a vida dos alunos, ela não tinha o poder de lhes tirar a capacidade de viver. 

“– Você tem talento – ele guiava minha mão com o pincel pelos cabelos ondulados da garota, escurecendo-os sombriamente. – Sozinha, teria um futuro brilhante. Mas, comigo, seria invencível. Eu completo você de um jeito que nenhum outro faria, não consegue ver? Por isso não consigo montar o seu quebra-cabeças. Porque está faltando uma peça nele. Eu.” 

   A história entre Lara Valente e Luka Ivanovick foi algo que aqueceu o meu coração. A autora nos mostrou sobre o poder do perdão e sobre até onde iríamos para proteger a nossa família. Não julgue uma pessoa antes de conhecer os motivos que a levam a ser do jeito que é ou a agir do modo que age. Tudo na vida ou na morte, tem uma explicação. 

   E se você meu caro leitor, é daqueles que ama uma história cheia de plot twist (reviravoltas no enredo) já lhe aviso que esse livro possui isso. Ao desenrolar da leitura eu praticamente tive que parar de ler para respirar e me perguntar se estava lendo algo errado ou se era aquilo mesmo, tamanho foi o meu choque com cada reviravolta digna de cinema. 

“O problema de reprimir feridas, é que, quando o efeito anestésico da névoa passa, a dor chega dez vezes mais potente.” 

   Karine conseguiu prender a minha atenção da primeira a ultima página. Ela criou uma história cativante e que nos faz querer ler sem parar como se precisássemos disso para sobreviver, como se nós fossemos os alunos da Escola dos Mortos. E aquele final? Meu coração quase explodiu. Recomendo esse livro de olhos fechados e ainda digo mais: LEIAM ANTES QUE A MORTE PEGUE VOCÊS hahaha. 

   Se você já leu esse livro e se sente confuso sobre algumas atitudes do Luka, recomendo que leia Um conto de Luka Ivanovick, nesse conto muitas perguntas são respondidas e podemos analisar todos os ângulos da história pelos olhos desse garoto de olhos negros e envolventes e temos a chance de entendê-lo melhor. 


   E para a minha grande felicidade, essa história será uma duologia e logo logo a continuação vem por ai. Teremos muito mais de Lara e Luka e do mundo dos mortos.



Detalhes

Páginas: 590
Autora: Karine Vidal
Editora: Skull

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